sábado, 31 de dezembro de 2011

Oclusão Dentária em uma População Indígena da Amazônia – A Genética Prevalece Sobre o Meio Ambiente

Alguns estudos mudam a forma como você vê a ciência e mostram, mesmo que discretamente, que as possibilidades estão aí... Basta agarrá-las com toda a força e trabalhar um pouco mais em busca do conhecimento!

Este é um desses estudos...

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Autores: David Normando, Jorge Faber, João Farias Guerreiro, Cátia Cardoso Abdo Quintão. (Departamento de Ortodontia – Universidade Federal do Pará, Departamento de Ortodontia – Universidade Federal de Brasília, Departamento de Ortodontia – Universidade do Estado do Rio de Janeiro) - BRASIL

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A dentição humana pode se adaptar funcionalmente à dieta e ao comportamento da alimentação. Os ossos continuam a se remodelarem através da vida do indivíduo, mas o esmalte dental não se regenera uma vez que a sua formação está completa. Por essas razões, a morfologia dental tem sido estudada como um importante indicador das adaptações funcionais e evolução filogenética.

A maloclusão dentária é um desalinhamento da dentição humana, quer devido a uma falta de espaço no arco dental ou a uma relação anormal entre ambos os arcos. Apesar de milhões de pessoas ao redor do mundo submeterem-se ao tratamento ortodôntico, a etiologia da maloclusão dental ainda não está clara.

Estudos examinando primatas humanos e não-humanos tem indicado que o aumento da ocorrência da maloclusão dental pode ser atribuída à disponibilidade de uma dieta mais processada e pela redução da necessidade de ação mastigatória poderosa.

A tribo indígena Arara-Iriri vive num local próximo ao Rio Xingu na região Amazônica (Figura 1) e foi contatada primeiramente no ano de 1987. Um estudo antropológico prévio, de 1997, reportou que as pessoas que constituem a aldeia são descendentes de um único casal que foi expulso 90 anos atrás de outra aldeia maior.

Embora as fundações de pequenas populações pareçam ser eventos frequentes na formação de novas tribos entre os índios da Amazônia, o processo de fissão e as consequências na diferenciação dos grupos étnicos tem sido raramente estudados. Dada a acessibilidade do histórico e os registros genéticos das populações das aldeias Arara, esta situação proporciona uma oportunidade única para melhorar o nosso conhecimento sobre a etiologia da maloclusão dentária.

Figura 1 – Mapa da América do Sul. A caixa ampliada destaca a região do rio Xingu e seu afluente Iriri, onde a as aldeias Arara-Laranjal e Arara-Iriri estão localizadas. A cidade mais próxima é Altamira (canto superior direito), localizada a 120 km e 320 km, respectivamente, das aldeias Arara-Laranjal e Arara-Iriri.

Conclusões:

- À luz do similar desgaste dentário, um desfecho de uma pronunciada influência do ambiente, a diferença marcante na maloclusão dentária entre os índios Arara indica um substancial impacto da genética na morfologia dos ossos faciais e dos dentes;

- Os resultados sugerem, também, que o efeito da endogamia genética exacerbou as alterações na oclusão da população Arara-Iriri. Esses resultados apóiam a idéia de que a variação das características quantitativas é geralmente poligênica e que nós devemos esperar uma base altamente poligênica para características complexas, tais como a morfologia craniofacial e a morfologia e desenvolvimento da dentição;

- Além disso, resultados do estudo minimizam a influência generalizada de desgastes na maloclusão dentária na população humana atual.

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