O trauma oclusal
primário pode induzir, inicialmente, uma sintomatologia caracterizada por dor
difusa, associada a um discreto aumento da mobilidade dentária, que pode durar
dias, semanas e até meses. Podemos dizer que este seria o primeiro momento do
trauma oclusal.
Em um segundo momento,
algumas semanas depois, pode-se notar, radiograficamente, alargamento uniforme do
espaço periodontal e espessamento da lâmina dura ou cortical óssea alveolar.
(Espessamento da lâmina dura)
Estas imagens radiográficas
ocorrem em consequência da necessidade de fibras periodontais mais espessas e
mais longas para suportarem um aumento da função, ou seja, absorver forças
oclusais mais intensas; aumenta-se assim a espessura do ligamento periodontal.
Ao mesmo tempo, estas fibras
periodontais maiores requerem uma inserção igualmente maior, aumentando-se a espessura
da cortical óssea alveolar para suprir esta necessidade, o mesmo devendo
ocorrer no cemento, mas neste não é possível se observar alterações nos exames por
imagem.
Na sequência, em um terceiro
momento, semanas ou meses depois, a continuidade da demanda funcional
aumentada pela força oclusal excessiva promove um estiramento intenso e
repetitivo das fibras periodontais, especialmente as cervicais, que se inserem
na parte mais cervical da crista óssea alveolar.
(Perda óssea vertical em "V")
Radiograficamente, portanto,
neste terceiro momento do trauma oclusal, adiciona-se ao quadro imaginológico a
perda óssea vertical com formação de um “V” típico do trauma oclusal, formado
pelo plano ósseo reabsorvido e a parede radicular.
As radiografias periapicais
servem para este diagnóstico, mas as interproximais são mais precisas. Por
maior que seja a perda óssea vertical nesta área, a sondagem periodontal não
revelará bolsa periodontal.
Neste terceiro momento,
mesmo com a perda óssea vertical no espaço interdentário, não haverá bolsa
periodontal, mas na face vestibular pode-se notar, clinicamente, que o contorno
gengival vai acompanhando o contorno ósseo vestibular, tendo como conseqüência
as recessões gengivais em forma de “V” ou angulares nos dentes em trauma
oclusal e com deiscências ósseas.
Clinicamente, neste terceiro
momento, têm-se um discreto aumento da mobilidade dentária, facetas de desgaste
oclusal ou incisal e a presença de recessões em forma de “V”, mas um quarto
sinal pode ser adicionado: a abfração.
O esmalte não consegue
acompanhar as deformações excessivas que as forças oclusais impõem à dentina.
Esta dissonância entre
o esmalte e a dentina na absorção das forças excessivas promove microfraturas
adamantinas na região cervical com perda de pequenos fragmentos e microexposições
de dentina. A
abfração acrescenta ao quadro clínico de trauma oclusal a perda cervical do
esmalte e a sensibilidade aumentada frente aos fatores bucais variáveis como
alimentação, líquidos, respiração, temperatura e outros.
Finalmente, no quarto momento
do trauma oclusal, depois de muitos meses e até anos de persistência das forças
oclusais excessivas, o osso periférico à cortical óssea alveolar, ou lâmina dura,
gradativamente espessa suas trabéculas e áreas de esclerose aparecem ao redor
da raiz afetada, distribuídas de forma irregular ou concentrada na lateral e ou
na região apical.
Haverá, a partir deste
momento, uma agressão cada vez maior e direta sobre as estruturas periodontais,
com prováveis danos focais à camada de cementoblastos que protegem as raízes da
reabsorção por sua falta de receptores de membrana para os mediadores da
reabsorção óssea. Nestas regiões da superfície, micro-áreas de reabsorção
radicular ocorrem, se somam e gradativamente se expressam como imagens radiográficas.
(Danos aos cementoblastos, levando à reabsorção radicular)
O desconforto sintomatológico
nem sempre está presente e em muitos casos o paciente acomoda-se; o trauma
oclusal, por ser subclínico, pode evoluir silenciosamente para consequências
mais graves.
Três questionamentos
fundamentais
1º) Quantos profissionais depois de “completado”
o tratamento ortodôntico fazem uma análise oclusal, avaliam as possíveis
interferências e promovem os ajustes necessários para o paciente ter alta com
uma oclusão minimamente aceitável?
2º) Quantos acreditam que
isto não seja necessário porque ao longo de seis meses pós-tratamento
ortodôntico haverá um ajuste oclusal acomodativo e natural?
3º) Qual a prioridade da
Ortodontia: a estética ou a função?
Uma análise oclusal
criteriosa deve fazer parte, ou melhor, faz parte do tratamento ortodôntico e
apenas depois de uma oclusão normal obtida o paciente deve receber alta e o
caso ser considerado completado, pois parece lógico que a função deve prevalecer
sobre a estética.
(Alberto Consolaro) - Artigo na íntegra: http://www.dentalpress.com.br/cms/wp-content/uploads/2009/05/v05n0306cno.pdf
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Dr. George Bueno
Cirurgião-dentista e Ortodontista
georgenbueno@gmail.com
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