quarta-feira, 27 de abril de 2011

Racionalização dos procedimentos para diagnóstico ortodôntico em relação cêntrica


Um desvio da relação cêntrica para a oclusão habitual pode significar a diferença entre extrações e a cirurgia ortognática para o paciente adulto.

Decidir pelos pacientes, muitas vezes, é o nosso trabalho. Que essa decisão, então, seja baseada em evidências ciêntíficas.

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Autores: Guilherme JANSON, Carlo MARASSI, Karina Santana CRUZ, José Fernando Castanha HENRIQUES, Marcos Roberto de FREITAS

- Artigo baseado na monografia desenvolvida pelo CD Carlo Marassi como requisito para conclusão do Curso de Especialização em Ortodontia-Ortopedia Facial da Faculdade de Odontologia de Bauru, Universidade de São Paulo.

Os ortodontistas tradicionalmente têm utilizado o registro de mordida em máxima intercuspidação habitual para articular manualmente os modelos de gesso e juntamente com os dados iniciais do paciente e a telerradiografia também nessa posição, realizar o diagnóstico e plano de tratamento dos casos. Entretanto, atualmente já se reconhece que os pacientes devem ser analisados em RC para revelar as reais discrepâncias dento-esqueléticas nos três planos do espaço para um correto diagnóstico e plano de tratamento. Portanto, muitos ortodontistas estão usando modelos articulados em relação cêntrica, montados em um articulador como um importante ponto de partida para o diagnóstico de seus pacientes.

Isto vem ocorrendo porque modelos montados em articulador podem revelar uma má oclusão completamente diferente do que o mesmo caso observado em máxima intercuspidação habitual. Além do mais, vários autores têm sugerido como um dos objetivos do tratamento ortodôntico, além do correto alinhamento, intercuspidação e movimentos excursivos dos dentes, a recuperação e/ou manutenção da posição assentada ou de relação cêntrica dos côndilos mandibulares, com a finalidade de evitar que os pacientes apresentem o potencial de desenvolver problemas funcionais oclusais ou distúrbios temporomandibulares. Estes autores afirmam que para se terminar os casos com os côndilos bem posicionados é importante levar-se em conta a posição dos mesmos ao início e durante o tratamento.

Em conseqüência desses requisitos para um bom diagnóstico e plano de tratamento, várias são as metodologias recomendadas para sua execução. Com isso, percebe-se que muitos profissionais encontram dificuldades em selecionar a melhor metodologia para aplicar rotineiramente em seus pacientes com o objetivo de lhes proporcionar o melhor tratamento possível, aliado à eficiência clínica. Dessa forma, o presente trabalho tem como finalidade: 1) Revisar e discutir os estudos mais importantes que justifiquem a preocupação de se verificar se os côndilos estão em relação cêntrica ao se fazer o diagnóstico de pacientes candidatos ao tratamento ortodôntico; 2) Apresentar de modo sucinto os procedimentos necessários e um protocolo de abordagem dos pacientes a fim de esclarecer em quais casos está indicado o uso de uma placa miorrelaxante e montagem dos modelos de estudo em articulador e a conversão do cefalograma de MIH para RC.




Conclusões:

1) Todo paciente deve ser submetido a uma análise clínica funcional a fim de identificar aqueles que possuem sinais e sintomas de disfunção temporomandibular ou desvios significativos de RC para MIH.

2) Os pacientes que apresentarem sinais e sintomas de disfunção ou não permitirem uma correta manipulação da mandíbula, devem ser submetidos ao uso de um dispositivo interoclusal a fim de se identificar a verdadeira relação inter-dentária e maxilomandibular quando os côndilos estão bem posicionados na fossa articular.

3) Nos pacientes que apresentarem discrepância entre RC e MIH maior que 2mm, aconselha-se a montagem dos modelos em articulador e conversão do cefalograma a fim de melhor analisar a má oclusão do paciente nos três planos do espaço.

domingo, 17 de abril de 2011

Entrevista: Dr. Ricardo Cruz

Sempre me disseram que é importante escolher bem as amizades.  Afinal, estamos sempre abertos às influências do meio em que vivemos.  A vida é mais fácil com bons amigos ao nosso lado.

Para professores? A regra é a mesma.

A entrevista abaixo me foi cedida pelo Ortodontista Gustavo Zanardi, um grande amigo que está finalizando a dissertação do Mestrado (UERJ) na UNC – Universidade da Carolina do Norte. Um futuro brilhante.

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Presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), Doutor em Biologia Animal/ Genética pela UnB, Mestre em Ortodontia pela UFRJ, Professor Titular de Ortodontia da UNIP-Brasília, Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO), Presidente eleito do Colégio de Diplomados do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia facial (CDBBO) e Revisor da Dental Press Journal of Orthodontics, um currículo invejável que faz juz a esta entrevista.


Três das perguntas contidas na entrevista! Para incentivar a leitura completa do texto...


Como e onde foi seu início na profissão? 

Assim que me formei comecei a trabalhar no nosso primeiro consultório em Brasília. Tivemos a felicidade de contar com a importantíssima ajuda de nossos pais, que não mediram esforços para montar o melhor consultório que poderíamos ter. Amplo, moderno, bem decorado, bem localizado. Havia apenas uma cadeira, então eu revezava os turnos com meu irmão. Os primeiros pacientes eram amigos e parentes que apenas esperavam nossa formatura para nos procurar. Nos outros períodos estávamos exercendo a profissão em outros locais. Num primeiro momento em clínicas privadas nos arredores de Brasília e depois ambos ingressamos no serviço público federal. Eu diria que comparado com a situação atual, nosso começo foi fácil. Não tivemos que esperar muito para ganharmos nossa independência financeira. 


Como foi sua pós-graduação?

Durante a graduação não tinha certeza ainda da especialidade que iria seguir. Tinha uma afinidade muito grande com a Ortodontia, mas confesso que a Cirurgia e a Prótese também tinham minha simpatia. Trabalhei durante cinco anos com clínica geral, que aliás recomendo para todos os que estão começando, pois só assim, após essa longa vivência clínica, temos maturidade suficiente para decidir a área em que iremos atuar o resto da vida. Em 1991, decidido pela Ortodontia, iniciei meu primeiro curso de pós-graduação em Bauru. Fiz os cursos de Cefalometria, Ortodontia Preventiva e Interceptativa e Typodont, necessários para ingressar no concorrido curso de especialização da FOB-USP. Ia de 15 em 15 dias para Bauru. Eram 900 km de distância de Brasília percorridos ora de ônibus, ora de carro. Ás veze s viajava a noite toda para ter aula na manhã seguinte. Foi um ano puxado e cansativo. Em 1992, estimulado por dois colegas de Brasília, Cláudio Telles e Jorge Faber, que já estudavam no Rio de Janeiro, resolvi prestar o concurso para o famoso curso de Mestrado em Ortodontia da UFRJ. Para minha felicidade passei no primeiro exame e me mudei para o Rio. No início de 1993 já era aluno do primeiro curso de especialização em Ortodontia do país (iniciado em 1960) e também um dos mais concorridos. Lá entrei de cabeça no fascinante mundo da Ortodontia e aprendi muito com grandes mestres como Dr. Carlos Telles, Dr. Alderico Artese, Dr. Orlando  Chevitarese, Dr. Nelson Mucha, Dra. Evangelina Monnerat, Dra Ana Maria Bolognese e Dr. Fernando Brazzale. Um curso de mais de 3000 horas com aulas de segunda a sábado em horário integral. Uma realidade cada vez mais rara, pois o que mais se vê hoje são cursos de 1000 horas dados em módulos mensais de um final de semana. Defendi minha Tese de Mestrado em 1995 e voltei para Brasília, onde havia deixado minha clínica e meu emprego. Chamado pelo meu ex-professor e grande amigo Dante Bresolin, comecei a ajudá-lo na disciplina de Ortodontia da UnB. Um tempo depois, em 2000,  fui chamado para montar a disciplina de Ortodontia na UNIP-Brasília, onde estou até hoje na atividade docente.  Em 2002, movido pela vontade de continuar meus estudos, ingressei no Doutorado em Biologia Animal da Universidade de Brasília, com concentração na área de Genética Humana, onde trabalhei com marcadores moleculares numa tentativa de localizar o (s) gene(s) do prognatismo mandibular. Fizemos um trabalho pioneiro, com a cooperação de duas universidades americanas (Indianápolis e USC). 


Qual foi o marketing que usou para começar? 

Confesso que nunca fui muito adepto de fazer o marketing tal como nós entendemos, com veiculação de anúncios, malas diretas, cartões de aniversário e de natal, out-doors, folders, veiculação de anúncios em jornais e revistas. Sempre achei que esse marketing agressivo na área de saúde não soava bem. Posso estar enganado, mas minha política sempre foi a de que o paciente bem tratado era meu maior marketing. E assim tem sido nesses 24 anos de vida clínica.


Deixe uma sugestão ou mensagem para os mais novos: 

Não se deixem desanimar pelas dificuldades do início da profissão. Trabalhem sério, com afinco e dedicação, respeitando valores como ética e moral, que as coisas acontecem. Não se deixem seduzir pelas promessas de lucro fácil. Preparem-se bem, escolhendo um bom curso de pós-graduação. Não se esqueçam que o seu nome vai estar ligado a esse curso e às pessoas que dele participam para o resto de sua vida profissional. O que você aprender lá será o que você vai fazer na boca do seu paciente e isso vai nivelá-lo com a massa ou distingui-lo profissionalmente. E procurem suas associações de classe. Elas estarão de braços abertos para recebê-los e ajudá-los nesse processo de crescimento. 

Link da entrevista completa (Site da ABOR): http://www.abor.com.br/index2.php?p=1&n_id=136

terça-feira, 12 de abril de 2011

Abordagem não-cirúrgica no tratamento da má oclusão de Classe III

Por que antecipar uma intervenção se um crescimento desfavorável ainda poderá ocorrer?
Há possibilidade de se controlar o crescimento?
Essas e outras perguntas. Respondidas? Nem tanto. Vamos pensar juntos.

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Autores: Eustáquio A. Araújo, Cristiana V. de Araújo (Universidade de Saint Louis)
A má oclusão de Classe III é um tipo de desvio dentoesqueletal cuja incidência varia entre 3% e 13% da população, conforme registros diversos. Esses números se modificam com base na procedência étnica dos observados. Uma prevalência aproximada de 6% parece ser mais consensual entre clínicos na América do Norte e no Brasil.
No aspecto psicológico, é importante ressaltar que, dentre os portadores de má oclusão, os de Classe III costumam apresentar os índices mais baixos de auto-estima.
A abordagem da Classe III requer cuidados especiais no diagnóstico e nas decisões quanto à época de tratamento e tipos de intervenção. Não há, no entanto, unanimidade entre os autores quanto a essas questões.
De acordo com Bacetti, Franchi e McNamara Jr. as más oclusões de Classe III tendem a tornar-se mais severas com o passar do tempo, uma vez que o crescimento da mandíbula mantém-se ativo por um período mais longo que o da maxila. Por isso, esses autores acreditam que uma intervenção ortopédica em pacientes em crescimento é bem-vinda e deve ser executada.


 Figura - Em sentido horário: Duas máscaras faciais para tração maxilar, mentoneria soft e mentoneira de Hickham

Conclusões:
Apesar da experiência de inúmeros resultados bem sucedidos, permanecem sem resposta definitiva muitos dos questionamentos a respeito do tema abordado. Advoga-se, mesmo assim, o início de terapias interceptativas em pacientes mais jovens. Nos casos de Classe III, uma verdade é cristalina: o crescimento, grande aliado da Ortodontia em outras correções, torna-se um adversário – quanto mais intenso e duradouro mais severo o problema.
Este trabalho é um convite a pesquisas e debates que, certamente, enriquecerão o conhecimento sobre esta matéria tão desafiadora e estimulante.

domingo, 3 de abril de 2011

Fios ortodônticos: conhecer para otimizar a aplicação clínica

A especialidade de Ortodontia abrange conhecimentos sobre materiais que, durante a graduação em Odontologia, geralmenta não são adquiridos.

Simplificando, posso dizer que existem dois tipos de Ortodontistas: aqueles que gostam de seguir protocolos sem pensar muito bem no que estão fazendo e os bons Ortodontistas.

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Autores: Cátia Cardoso Abdo Quintão, Ione Helena Vieira Portella Brunharo (Departamento de Ortodontia – Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

O bom ortodontista deveria possuir a habilidade manual de um artesão e o conhecimento profundo da ciência ortodôntica. Porém, o profissional poderia se questionar: “Estudar fios ortodônticos melhoraria a habilidade manual do ortodontista, ou aumentaria a sua clientela?”. Se apenas a habilidade manual bastasse, grandes artesãos seriam excelentes ortodontistas. Portanto, o conhecimento a respeito de fios ortodônticos permite ao profissional realizar movimentos mais eficientes e evitar danos aos dentes e tecidos de suporte.


 Fio superelástico de NiTi utilizado no alinhamento do arco dentário por apresentar boa resiliência e menor rigidez do que as demais ligas, com transmissão de forças leves e contínuas.


Conclusões:

Conhecer cientificamente os fios ortodônticos é tarefa árdua e longa. O tema, entretanto, se torna fascinante na medida em que possibilita ao profissional escolher o melhor protocolo de tratamento para o paciente, realizando tratamentos mais eficazes, mais rápidos, de menor custo e com menor possibilidade de causar danos aos dentes e tecidos de suporte. O mais importante advento do conhecimento de fios, entretanto, reside no fato de permitir ao ortodontista optar por materiais com segurança na escolha, sem se deixar influenciar apenas por recursos de propagandas.


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