domingo, 29 de maio de 2011

Prevalência de má oclusão em crianças entre 6 e 10 anos – um panorama brasileiro

O que gostaria para o futuro?

A Ortodontia no SUS. 

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Autores: Marcos Alan Vieira Bittencourt, André Wilson Machado (Universidade Federal da Bahia)

A partir de 1899, com a classificação das más oclusões proposta por Angle, e com o reconhecimento da Ortodontia, muito foi publicado sobre a incidência e a prevalência de más oclusões na população. Sabe-se, com base em dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), que a má oclusão é o terceiro item na ordem dos problemas de saúde bucal, sendo precedido somente pela cárie e pela doença periodontal. 

No Brasil, essa situação se repete, o que faz com que a má oclusão seja merecedora de especial atenção. Contudo, é preocupante a dificuldade que a população menos favorecida financeiramente tem em acessar os serviços públicos de saúde bucal, já que poucos deles têm um setor ou programa voltado para esse problema. Assim, há acúmulo das necessidades de tratamento ortodôntico e não há acesso nem aos recursos preventivos mais simples, nem àqueles de tratamento mais complexo.

O conhecimento das características de uma população é fundamental para o desenvolvimento de propostas de ação adequadas às necessidades e riscos. O campo de trabalho nessa área é amplo e pouco atendido. A avaliação das más oclusões não tem avançado em direção a uma perspectiva de saúde coletiva, predominando estudos com delimitações temáticas, morfológicas ou biomecânicas.

Objetivo do estudo: Estabelecer um panorama brasileiro da ocorrência de más oclusões em crianças de 6 a 10 anos de idade, além de duas situações clínicas frequentemente associadas a elas: a cárie e a perda prematura de dentes decíduos.

Resultados: Entre outros fatores analisados, procurou-se definir se a criança era merecedora de atenção ortodôntica, tanto ao nível de prevenção quanto de interceptação, sendo observada a necessidade, respectivamente, em 72,34% e em 60,86% das crianças examinadas



Distribuição do tipo de má oclusão, de acordo com a classificação de Angle, nas crianças portadoras de oclusão desfavorável.

Conclusões:

1. Houve 85,17% de prevalência de más oclusões nas crianças examinadas, embora tenha sido verificado que, em 16,77% dessas, as alterações oclusais eram pouco significativas, fazendo com que o índice de oclusões não favoráveis ao desenvolvimento normal ficasse reduzido a 68,4%.

2. Das crianças que possuíam oclusões não favoráveis, 40,6% apresentaram má oclusão de Classe I; 21,6%, de Classe II e 6,2%, de Classe III. A mordida cruzada esteve presente em 19,58%, sendo 10,41% na região anterior e 9,17% na região posterior. Em relação ao trespasse vertical, 34,46% apresentavam sobremordida normal; 18,09%, sobremordida profunda e 15,85%, mordida aberta.

3. Considerando-se a totalidade da amostra, verificou-se a presença de cárie e/ou perda dentária em 52,97% das crianças.

4. Verificou-se a possibilidade de intervenção ortodôntica preventiva em grande parcela das crianças examinadas, incluindo orientação (55,63%), supervisão de espaço (8,52%) e abordagens relacionadas aos hábitos anormais de pressão (5,51%) e à respiração bucal (2,68%).

5. Da mesma forma, detectou-se a necessidade de intervenção ortodôntica interceptora envolvendo a manutenção de espaço (13,48%), recuperação e/ou controle de espaço (23,79%), correção da mordida cruzada (9,23%) e da mordida aberta (5,8%), além de intervenção ortopédica para correção das más oclusões de Classe II ou III de Angle (8,56%).

6.  Fica claro que a presença, nos postos públicos de saúde, de um especialista em Ortodontia com qualificação que atenda aos padrões estabelecidos pela ABOR e pela WFO pode beneficiar aproximadamente 70% das crianças carentes brasileiras.


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